domingo, 16 de setembro de 2012

As Duas Casas




As Duas Casas
Prof. Anísio Renato de Andrade
No tempo da bonança, todas as edificações parecem seguras.
Ao concluir o sermão do monte, Jesus disse à multidão: “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelha-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; e desceu a chuva, e correram os rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha.
E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compara-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda”. (Mateus 7.24-27).
O Mestre falou sobre dois homens, que representavam os dois tipos de pessoas que estavam ali ouvindo a sua mensagem. Os dois eram muito semelhantes entre si. Vejamos suas semelhanças:
Ambos conheceram o Senhor Jesus
O Mestre não estava se referindo àqueles que nunca ouviram falar a respeito dele, mas às pessoas que o conheciam. Encontrar Jesus é uma das experiências mais importantes na vida de qualquer ser humano. Entretanto, isto não será suficiente para salvar o desobediente contumaz.
Judas Iscariotes conheceu Jesus e andou com ele, mas não foi salvo. As igrejas estão repletas de pessoas que conhecem o Senhor em um nível básico, mas o plano de Deus para nós vai muito além dessa experiência inicial.
Ambos ouviram a palavra de Deus.
Conhecer as Sagradas Escrituras é algo de suma importância. O conhecimento teórico é necessário, mas não pode ser o fim da jornada. Aqueles homens estavam bem informados sobre a vontade de Deus. Não eram ignorantes. Não estavam vivendo sob a égide de uma heresia. Conheciam a verdade. Muitos conhecem a bíblia, mas apenas como história ou literatura religiosa. De nada adianta, por exemplo, conhecer bem a fórmula do chocolate sem jamais experimentá-lo.
Aqueles homens eram trabalhadores
Eles possuíam muitas qualidades. Eram dignos de reconhecimento. Não foram preguiçosos nem omissos. Tinham uma meta definida e tomaram iniciativas no sentido de construírem suas casas. Não ficaram inertes, esperando que outros o fizessem. Além disso, não pararam no meio do empreendimento. Muitas pessoas ficam apenas no projeto. Outras tantas começam, mas desistem. Aqueles homens foram até o fim, concluindo o que haviam iniciado. Eram persistentes e determinados. É importante observar que tudo correu bem durante a construção. Não faltaram os recursos necessários: o terreno, o dinheiro, o material e a força para o trabalho.
Aparente sucesso
Depois de prontas, as casas devem ter ficado bonitas. Aparentemente, tudo tinha dado certo. Já se podia providenciar a mudança e a inauguração da nova residência.
Nossas edificações
Todos nós estamos empenhados em algum projeto ou, quem sabe, em muitos. Estamos construindo carreiras profissionais, nossas famílias, nossas vidas. Estamos trabalhando para a realização dos nossos sonhos e desejos. Podemos até estar envolvidos com a obra de Deus na igreja.
Quantas vezes conseguimos realizar tantas coisas. Alcançamos nossos alvos e tudo parece bem. No tempo da bonança, todas as casas parecem seguras. Até mesmo alguns ímpios, bem sucedidos na vida, do ponto de vista material e social, parecem exemplos a serem seguidos. O salmista Asafe chegou a sentir inveja dos incrédulos, ao ver sua aparente prosperidade e firmeza (Salmo 73).
O dia da tempestade
Todas as nossas obras serão testadas. Não será um exame das aparências, mas da essência. O teste veio apenas sobre a casa do insensato? Não. As duas foram alvo da tempestade. As tribulações da vida vêm sobre todos. Ninguém tem imunidade. Alguns imaginam que, pelo fato de serem cristãos, não possam passar por necessidades financeiras, não possam ficar doentes ou tristes. Não é verdade. As dificuldades vêm sobre todos, inclusive sobre o sábio, pois é nessa hora que sua sabedoria será útil e necessária.
“Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse” (IPd.4.12).
“Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados; perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos”. (IICo.4.8-9).
"No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo". (João 16.33).
É importante notar que, dessa vez, Deus não interferiu para acalmar a tempestade. Ele pode fazer isso, mas não significa que fará sempre. Algumas vezes, a tormenta continuará até o fim, sem interferência divina, pois trata-se de um teste necessário e importante.
Não se espera que, durante a prova de uma criança na escola, o pai entre na sala para interromper ou solucionar as questões para o filho. Não fique decepcionado com o Senhor.
Jesus disse que aquelas casas foram atingidas pela chuva, pelos rios e pelos ventos. Talvez as duas estivessem bem preparadas para suportarem a chuva, mas resistir às correntezas de um rio é algo muito mais difícil. A vida cristã traz desafios crescentes. O inimigo poderá nos atacar de modo ferrenho, dentro dos limites permitidos pelo Senhor. Não podemos viver despreparados, pensando que o cristianismo seja um mar de rosas. A chuva, os rios e os ventos são tipos de tribulações que vão nos testar por todos os lados e em todos os aspectos. Seremos atingidos, açoitados, balançados e sacudidos. Quem está de pé, cuide para que não caia (ICo.10.12).
Tais ataques podem ser em forma de perseguição e sofrimento, ou em forma de ofertas tentadoras. Muitos não caem por causa da calúnia ou do dinheiro ilícito, mas sucumbem diante da prostituição e do adultério. As tempestades testam nossas estruturas. Aí então mostraremos se somos cristãos de verdade.
O dia seguinte
Depois da tempestade, verificou-se que apenas uma casa continuava de pé. A outra tinha desabado. Continuaremos no lugar depois da chuva, dos rios e dos ventos. Muitos são aqueles que se desviam do caminho da verdade, após terem sido alvejados pelo inimigo.
Quem tivesse visto as casas antes, poderia questionar: O que aconteceu? Por quê aquela casa caiu? Parecia tão boa, tão bonita, tão forte. O problema estava na base. Uma foi construída sobre a rocha. A outra, sobre a areia. Então, aquelas casas, que podiam ser tão parecidas, tinham uma diferença profunda, assim como eram bem diferentes aqueles dois homens, apesar das semelhanças já mencionadas. Um era sábio. O outro, insensato. Suas obras foram diferentes por causa da grande diferença de caráter entre ambos. Nossas obras revelam o nosso caráter.
O alicerce
Nele está o motivo da queda ou da firmeza. É a parte oculta da construção. Não se trata de aparência, mas de essência. É importante investir nas janelas, nas paredes, no piso, nas portas, no telhado, na tinta, no revestimento, etc, mas não podemos economizar no alicerce. Trata-se de um investimento oculto, mas imprescindível. Não basta que a casa seja grande e bonita. É preciso ter um bom fundamento. Ter uma boa imagem pública é ótimo, mas os valores e práticas mais importantes da nossa vida são aqueles que só Deus vê.
O alicerce do cristão é Cristo. “Ele é a rocha que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por pedra angular” (At.4.11). Nele somos firmados através da fé, da obediência e de um compromisso radical e indissolúvel com Deus. São elementos espirituais que os outros não vêem e podem até não valorizar. É o cristianismo em profundidade, algo que vai muito além da liturgia e dos costumes.
Aquele que se desvia por causa do escândalo de outra pessoa não tem alicerce. É como planta sem raiz.
Aquele moço que se desvia do evangelho para namorar uma incrédula não tem alicerce. Sua casa caiu.
O Senhor deseja que sejamos prudentes. A maior demonstração de prudência e sabedoria é obedecer à palavra do Senhor. É colocar em prática o que já conhecemos da vontade de Deus.

Na hora do teste, a aparência não resolve, mas o fiel permanecerá firme. Resistirá às tribulações e será motivo de glória para o nome do Senhor.

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